Combate ao uso do agrotóxico e agroecologia são temas de seminários em Curitiba

Mesa de abertura do II Seminário Internacional contra os agrotóxicos
Mesa de abertura do II Seminário Internacional contra os agrotóxicos

(Curitiba, 14/03/2018) Dois grandes seminários relacionados à agroecologia, ao combate ao uso do agrotóxico e à saúde do trabalhador estão sendo realizados em Curitiba, nesta semana. Até quinta-feira (15 de março), cerca de 500 pessoas – estudantes, pesquisadores, agricultores e representantes de movimentos sociais e de entidades públicas e privadas – participam do II Seminário Internacional “Fortalecimento da agroecologia, consequências dos agrotóxicos à saúde humana e a natureza” e do IV Seminário “Sistemas de Produção Tradicionais e Agroecológicos de Erva-Mate”.

Estes dois seminários se integram à campanha “Viva sem veneno”, foi lançada durante o encontro do Fórum Nacional de Combate aos Agrotóxicos, do qual o Ministério Público do Trabalho faz parte, em novembro de 2017. Na abertura do evento, que está sendo realizado desde terça-feira (13 de março) na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), foram exibidos dois filmes do movimento, alertando sobre o uso do agrotóxico.

Alimentação saudável e agroecologia - A preocupação com a alimentação saudável, livre de agrotóxicos, e com a agroecologia foram as tônicas da mesa de abertura dos seminários. Para o coordenador do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Paraná, Paulo de Oliveira Perna, por exemplo, a intoxicação crônica em virtude do uso de agrotóxicos é um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil, atualmente. “É um problema que tende a ser minimizado e a ficar invisível”, diz. “Desde 2012, quando foi organizado em Curitiba o I Seminário Internacional Contra os Agrotóxicos, foram feitos muitos estudos, pesquisas e denúncias em torno do tema, mas ainda há muita subnotificação das intoxicações, sobretudo as crônicas”, explica.

A presidente da Associação Paranaense de Expostos ao Amianto e Vítimas de Agrotóxicos (Apreaa), Lídia Bandacheski do Prado, é uma das vítimas do uso excessivo de agrotóxicos. Depois de quase uma década indo e vindo de hospitais em virtude do enfraquecimento de braços e pernas, uma equipe da Universidade Federal do Paraná (UFPR) confirmou o diagnóstico de intoxicação crônica por agrotóxicos. “Eu vivo essa praga do agrotóxico todos os dias. Quando peguei meu laudo, passei a viver tempestade em dia de sol. Como se não bastasse a luta contra a doença, não posso trabalhar”, conta. “Às vezes a tristeza é tão grande que já cheguei a apensar em acabar com a minha vida. Isso acontece muito na região onde moro, com conhecidos meus.”

Produtores de vida – O coordenador Estadual da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Paraná, Neveraldo da Silva Oliboni, destacou a importância da alimentação saudável e da agricultura familiar para o bem-estar não só de trabalhadores do campo, mas também de toda a sociedade. “Sabemos da importância da agricultura familiar. Somos produtores de comida, produtores de vida.” Oliboni também destacou a importância do Paraná e de Santa Catarina na produção da erva-mate. “Aqui, temos organização sindical organizada que envolve cerca de 40 mil agricultores que vivem da erva-mate sustentável.”

O coordenador do MST no Paraná, Roberto Baggio, reforçou a importância das discussões acadêmicas e a reflexão sobre um modelo saudável de alimentação e de produção. “Os agricultores têm aqui um papel extremamente importante: são os guardiões da semente – ou seja, guardiões da vida. Um seminário como esse é sinal de que estamos indo pelo caminho certo. “
Os estudos e pesquisas sobre agroecologia também foram incentivados pelo presidente do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Florindo Dalberto, e pelo diretor do Centro Estadual de Vigilância Sanitária, Paulo Costa Santana. Ambos acreditam que o Paraná é palco de importantes reflexões e estudos sobre o tema há muitos anos. Essa tendência foi corroborada pelo reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, e pela vice-reitora da UTFPR, Vanessa Ishikawa Rasoto. Eles destacaram o papel das universidades públicas como desenvolvedoras de pesquisa para melhoria da sociedade, fortalecendo a parceria com instituições públicas e privadas.

Mais saúde – O impacto direto da aplicação de agrotóxicos na saúde do trabalhador do campo é a grande preocupação da coordenadora do Grupo de Trabalho do MPT, procuradora do Trabalho Ana Gabriela Oliveira de Paula: “Nosso trabalho, ao longo dos últimos quatro anos, tem sido buscar combater os impactos do uso do agrotóxico na saúde dos trabalhadores. Muitas vezes os agricultores são responsabilizados pelo uso desses venenos, sendo que a dinâmica mercadológica é cruel com o mundo do trabalho desde a década de 60/70, quando tivemos o desenvolvimento da agricultura baseada no agrotóxico”, explica. “Seminários como estes, que enfocam a agroecologia e tentam trazer soluções para modificar os processos produtivos e ideias para afastar o trabalhador da utilização do veneno é algo extremamente valioso.”

O superintendente regional do Trabalho e Emprego, Paulo Alberto Kroneis, enfatizou que é importante pensarmos em nosso lado cidadão, que procura cuidar da alimentação e ter uma melhor qualidade de vida. “Vivemos numa busca e conscientização do que devemos colocar para dentro do nosso corpo. Queremos que nossos filhos comam hortaliças, frutas, verduras – mas sabemos que somente isso não basta: é preciso termos o hábito de consumir de forma saudável. E esse é o grande desafio.”

A representante da diretoria do campus da UTFPR, professora doutora Ângela Emília, também acredita que as discussões propostas nos seminários refletem diretamente as preocupações com a saúde. “Aqui teremos uma discussão pela vida, discussão pelo direito de uma alimentação saudável, pelo respeito às nossas famílias, ao alimento que colocamos em nossas mesas.”

Engajamento e conscientização – A Presidente do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT9), desembargadora Marlene Teresinha Fuverki Suguimatsu enfatizou a necessidade do engajamento de vários atores da sociedade, incluindo pesquisadores, integrantes do Poder Judiciário e do Ministério Público , para que também se tornem agentes de modificação. Para ela, é essencial que se garanta o direito de exercer o trabalho em condições que preservem a dignidade e a saúde, e viabilizando convergência para o desenvolvimento sustentável. “Quando nos omitimos quanto ao envenenamento pelo trabalho, ou quanto ao envenenamento do trabalho e da própria vida humana, veneno é somente o que resta.”

O mesmo pensa o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho no Paraná, procurador regional do Trabalho Gláucio Araújo de Oliveira, que afirma ser papel dos procuradores do Trabalho saírem dos gabinetes para presenciar a realidade no campo. “Sei das mazelas na extração de erva-mate aqui no Paraná, por exemplo. Para quem não sabe, as condições análogas ao trabalho escravo na extração da erva-mate não é algo raro em nosso estado, infelizmente”, comenta. “O Ministério Público deve atuar próximo à comunidade, deve ter conhecimento das dificuldades, buscar a proteção dos trabalhadores no campo e, dessa forma, almejar um meio ambiente de trabalho saudável. Por isso, esta é uma grande oportunidade de estabelecer um espaço de discussão, diálogo e conscientização.”

Viva sem veneno – A campanha “Viva sem veneno” contém diversas peças, como filmes de televisão, anúncios de jornal, outdoors, programas de rádio e também uma websérie com vários capítulos que abordam inúmeros aspectos dos efeitos dos agrotóxicos. Em três meses, já formou uma comunidade com mais de 70 mil pessoas nas redes sociais - e vem crescendo rapidamente com interações e compartilhamentos e influenciando cada vez mais pessoas.

A campanha é uma articulação nacional que conta com os seguintes apoiadores: Observatório do agrotóxico; Universidade Federal do Paraná; Núcleo de Estudos da Saúde Coletiva; Associação Paranaense dos Expostos ao Amianto e aos Agrotóxicos; Ministério Público do Trabalho; e Fórum Nacional e Estaduais de Combate aos Agrotóxicos.

Para conhecer e apoiar a campanha, acesse a página www.vivasemveneno.com.br. Para assistir à mesa de abertura do evento e a todas palestras do seminário, acesse a fanpage Facebook (https://www.facebook.com/VivaSemVeneno/). O evento também está no Instagram: (https://www.instagram.com/vivasemveneno/).

Clique aqui para acessar a programação dos seminários.

Assessoria de Comunicação – MPT/PR
Atendimento ao trabalhador
(41) 3304-9000 / 3304-9001 / 3304-9009

Atendimento à imprensa
(41) 3304-9103 / 3304-9107 / 98848-7163
prt09.ascom@mpt.gov.br